1ª pessoa com Síndrome de Down no Brasil a ter CNH: “Queria independência”
Laura, 20 anos, recebeu a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) na última segunda-feira (19).Imagem: aquivo pessoal
A youtuber e recepcionista de hotel Laura Simões, de 20 anos, recebeu a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) na última segunda-feira (19). Como muitos jovens, ela sonhava em dirigir, e se tornou a primeira pessoa com Síndrome de Down a ter o documento no estado de Alagoas, onde vive. Segundo o Movimento Down confirmou a Universa, Laura é, também, a primeira do Brasil.
Em entrevista a Universa, Laura contou que decidiu tirar a carteira para ser mais independente, e que o processo exigiu muita concentração, mas que contou com o apoio da família e dos amigos, que nunca duvidaram de sua capacidade.
“Eu queria ser mais independente, parar de precisar dos outros
“Fiz o mesmo processo que qualquer outra pessoa. Cheguei lá como a Laura, não como uma menina que tem Síndrome de Down”, lembra. “Fui reprovada na primeira vez, tanto na prova teórica quanto na prática, mas passei na segunda tentativa. Nunca achei que não fosse conseguir, sempre estive confiante”. A história de Laura viralizou ao longo da semana, desde que seu irmão, Eduardo, falou sobre a conquista dela no Twitter: “Minha irmã é a primeira condutora com Síndrome de Down no Brasil”, escreveu.
“Vou lá e faço”
O primeiro trajeto de carro feito por Laura foi de casa para o trabalho, com o pai do lado, para pegar prática. Imagem: aquivo pessoal.
Mais tarde, ele corrigiu, dizendo que Laura é “uma das primeiras” pessoas com Síndrome de Down habilitadas no Brasil. Mas, segundo confirmou o Movimento Down a Universa, ela é sim a primeira. Em 2019, outra jovem com a síndrome, Maria Clara Ribeiro, chegou a fazer autoescola, mas não tirou a CNH.
“Fácil não é — tem que ser resiliente, determinada, e querer muito — mas não acho que seja mais difícil tirar a carteira para uma pessoa com Síndrome de Down. Pensar isso é um preconceito e eu estou aqui para provar que sim, conseguimos”, disse Laura.
Quando o documento chegou, no início da semana, o primeiro trajeto feito pela jovem foi de casa para o trabalho, mas com o pai do lado, para pegar prática.
Laura conta que o preconceito contra quem tem Síndrome de Down está diminuindo, mas ainda existe: “Sempre tem gente que acha que a gente não vai conseguir, que nunca vai chegar lá — passei por isso na escola, no trabalho… Quando acontece, eu não debato e nem fico pensando nisso para não me chatear, mas procuro mostrar minha capacidade. Vou lá e faço”.
Capacitismo
Joyce Renzi, diretora do Instituto Lagarta Vira Pupa e fundadora da Rede Orienta, que acolhe famílias atípicas, diz que é comum as pessoas duvidarem da capacidade de crianças e jovens com Síndrome de Down — a prática tem nome: capacitismo. Ela também é mãe de um menino de 6 anos com Síndrome de Down e conta que é comum quando a família passeia na rua, por exemplo, que as pessoas façam perguntas sobre a criança, mas para os pais, sem nem tentar se comunicar com ele. “Perguntam o nome dele ou quantos anos ele tem para mim ou para o pai porque acham que ele não vai ter capacidade de entender a pergunta ou de se comunicar. E nós respondemos: ‘Ué, pergunta para ele'”.
“O que agrava o preconceito é o fato de a Síndrome de Down ser um diagnóstico atrelado a uma deficiência intelectual. Por isso, a grande dificuldade das pessoas com Síndrome de Down é ter que provar o tempo todo que elas podem sim responder uma pergunta ou tomar decisões sobre a própria vida — talvez com uma lentidão um pouco maior, mas podem”, afirma Joyce. “Elas são muitas vezes lidas como ‘café com leite’ e isso impacta na autoestima. Por isso é importante a família acreditar e fortalecer essa criança ou jovem”